Tantas guerras aos milhões
Entre ruínas tantas perguntas
Sempre pouco o vento espalha
A cada alvorada, campo de batalha
Tantas pazes por fazer
Ainda na volta das não-respostas
Oiro, pó, contas no torvelinho
Quantas promessas a ficar pelo caminho
Não sei porquê o mal
Que qualquer coisa devia resolver
O bem são flores no peito
Todas juntas
Não largues esta mão
Há sempre qualquer coisa que está pr’acontecer
Inquietação, inquietação
Cá dentro inquietação
A partir de Inquietação, de José Mário Branco
Reinterpretámos a canção. Reinventámos uma nova melodia, à luz
da inquietação atual. Não há métricas nem rimas metódicas. Pede
o compasso do tempo que sejamos regrados nas nossas escolhas.
O agora está aparentemente suspenso – sem soluções, somamos
perguntas ao stock de incertezas. Inquietamo-nos dentro de nós.
A inquietação é pessoal. É política e social. É
artística. É individual e, em simultâneo, coletiva.
É “qualquer coisa que está pr’acontecer”, ou
qualquer coisa que não aconteceu. É o medo de
um futuro desconhecido, mas é também a ânsia e
a esperança de que o desconhecido seja melhor
do que aquilo que conhecemos.
Inquietação, também é, não nos podermos
inquietar fora de quatro paredes. E é também
pensar em quem, agora, não tem quatro paredes
para se inquietar. A Merge volta a trazer-vos uma
edição totalmente gratuita, como um presente
para esta quarentena longa com sabor a déjà-vu,
que ninguém queria reviver.
Nesta edição não pretendemos definir o que é
“inquietação”. Não é possível definir o que, dentro
de cada pessoa, é indefinível. No final destas
páginas, ninguém chegará a um consenso. Não
precisamos de um. Contudo, esperamos apaziguar
a vossa inquietação - ou incendiá-la ainda mais.
As manifestações artísticas que se seguem vêm
relembrar que há sempre mil coisas por fazer e
ideias por reinventar.
Artistas presentes nesta edição:
Tiago Sarmento, Teresa Chow, Maria Teixeira, Miguel Gil, Inês Cesariny, Pedro Dias aka Penetra, Inês Gomes, Mariana Carvalho
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